sexta-feira, 6 de julho de 2007

No 52...Já ninguém mora!

Cheguei e sentei-me.
Coloquei a mala a meus pés e olhei de frente a casa. Quase nada mudara.
Fiquei ali a contemplá-la durante um bom bocado.
Parece que o tempo voltara atrás e que ainda via em alguns dos rostos que passavam, as feições de crianças que por ali andavam.
O vento soprava de mansinho e o cheiro a Verão invadia o ar.
Quase não havia carros ou pessoas na rua.
Olhei à minha volta e reparei que cada cantinho daquele largo, escondia um segredo. Sorri.
Relembrei o dia em que te encontrei pela primeira vez. Estava sentada no passeio em frente à minha casa e tu caminhavas do outro lado da rua. Em passos fortes, seguros, compassados. Trazias no rosto a calmaria de uma noite de Verão. Olhei-te e perdi-me na imensidão do teu ser. Não consegui tirar os olhos de ti. Continuaste caminhando e a certa altura paraste e olhaste-me de soslaio. Fingi que não vi. Apercebendo-te do meu pouco à vontade, viraste-te para mim e sorriste. Fui incapaz de não te sorrir.
A rebeldia das águas do mar em dias do mais rigoroso Inverno, estava agora no meu peito.
Senti-me voar.
Quis dizer-te Olá, mas a minha boca recusou a mexer-se e os lábios a colaborar.
Continuaste a andar.
No dia seguinte, no outro, no outro e no outro, esperei-te. Não vieste.
Por força do destino, 3 meses depois fomos obrigados a mudar de casa. Estive fora do país 10 anos.
A única coisa que sabia era que moravas no n. 52 da Rua das Papoilas.
Durante todo esse tempo perguntei-me por ti. Onde estavas? Como? Terias mudado? Já não terias aquela farta cabeleira loura? Apercebi-me que fazias parte de mim, como nenhuma outra pessoa. Adormecia e acordava a ver-te sorrir.
Há um mês, decidi voltar e procurar-te.
Trouxe as malas cheias de saudade e aqui estou; no mesmo largo, a contemplar a tua casa e a ganhar coragem para ir bater na tua porta...para te dizer olá.
Atravesso a estrada e respiro fundo. Levanto a mão de punho fechado e bato à tua porta.
Uma velhinha da casa ao lado, vem à janela e pergunta:
-Oh menina, quem procura? A família e o menino mudaram-se ontem . No 52...já ninguém mora!

(Em resposta a um desafio lançado por um membro da blogosfera: Finúrias)

Um comentário:

Anne disse...

E' uma histo'ria? E' uma realidade? Deixa-se 'a imaginac,ao d cada um de no's. Ta' giro? Ta'.

:)